domingo, 27 de maio de 2012

Sensações

Não posso deixar de reparar que nossos tempos são tempos velozes. E parece que Cronos, mais do que antes, deseja-nos em seu ventre. O tempo que passa continua com suas horas, seus minutos e seus segundos. Nós, demasiadamente humanos, é que queremos demais para poucas horas. E talvez não seja o melhor para nós. Tamanha é a quantidade de coisas que temos durante um dia, que não nos lembramos de quase nenhuma ao deitarmos para, disfarçadamente, descansar. Hoje fazemos, e amanhã também... E, como Chaplin certa vez disse, esquecemos do que é sentir.


"Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência,de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido."

Passei por uma experiência significativa alguns dias atrás. Para mim, foi entender um pouco o que é sentir. Sei que isso é individual, e cada qual precisa procurar tais coisas dentro e fora de si. Mas, como tento em todo o meu escrever, não quero ser manual. Não quero dizer o que fazer. Quero só instigar, fazer pensar... Ser alguém que abre a porta, ou melhor, mostra a porta... Ou nem isso, que só aponta para alguma direção. Algumas vezes, minha porta pode ser a sua; outra vezes, ocorre o inverso. Ao final, o processo do caminhar é proveitoso. 

Pois bem...

Como de costume, fui a biblioteca. Sim, é um dos meus lugares favoritos. Onde me sinto em casa. Lá, posso relaxar. O ambiente, as cores das estantes, seus livros e seus números... O silêncio ocasional e os pássaros à janela algumas vezes. Tudo isso me enche de uma felicidade inexplicável. Porém, desta vez me propus a somente ir. Ir e caminhar entre as estantes, sem falar nada, sem ouvir minha voz, sem um objetivo definido. Somente olhando, passando a mão pelas brochuras e deixando os olhos viajarem pelos muitos livros. Quão incrível isso foi para mim! Me senti como um desbravador... Achei livros aos quais nunca atentei; foleando alguns achei antigos marca-páginas, anotações em diversas letras, recados. Me deixei levar...

Acabei vendo o quanto minha visão é precária. O quanto é perdido por focalizar (ainda que isso seja necessário). Vi o quanto enxergo pouco, e de pequenas vezes. Eram tantas coisas que nunca havia visto! Eu, que sempre estou na biblioteca, me senti um visitante de primeira viagem. Senti que estava olhando para mim durante toda a silenciosa caminhada por entre os silenciosos vãos cheio de livros. Sai, irresistivelmente, com um livro em mãos. Um pouco abobalhado, devo dizer...

Chovia enquanto estava na biblioteca. Ao sair, somente chuviscava. Pequenas e leves gotas estavam marejando o tempo. Me encostei a parede da entrada da biblioteca e olhai para o céu... e me deparo com dois lindos arco-íris! Fiquei olhando, sem resolução alguma, para aquele espetáculo natural. Decide andar um pouco... Cheguei ao campo de futebol, molhando pela chuva de outrora. Aspirei profundamente o cheiro de grama molhada, olhei para o céu e vi o grande arco-íris reluzindo, com suas cores. O silêncio dentro e fora de mim eram explicáveis... Tudo aquilo fazia sentido, pois os sentia.

Acredito ser necessário tais momentos. Quando os escrevo, sei que perco muito do que realmente foi todas aquelas experiências. Mas, senti que o silêncio que estava comigo era uma companheiro necessário. E que hoje, nós o rechaçamos tantas vezes. Na pressa que temos, perdemos os sabores da existência. As coisas que não precisam ser explicadas, que estão aí e que vão para dentro de nós como flechas. E que são...

2 comentários:

  1. Muito bom o texto, parabéns! Me fez sentir mais leve, calma como se tivesse passado por essa mesma experiência que descreveu no texto. Continue escrevendo, não faz bem só a você mas a nós leitores também. =D

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    1. Você não sabe o quanto me deixa feliz ler suas palavras! Obrigado pelos elogios, pelo incetivo e pelo carinho exposto no comentário.

      Pena que você não se identificou! ;D

      Obrigado, de coração...

      Jonathan O.

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