quarta-feira, 25 de abril de 2012

Vivendo através do Outro

Onde você está realizando a sua vida? Alguém pode ver essa pergunta um pouco estranha. Mas, penso, essa pergunta é mais do que importante. Nas idas e vindas da vida, podemos esquecer a quem pertence a nossa existência e viver através do outro. E poderia falar na relação de ver pelo outro, porém isso é tema de outro texto. O outro pode ser benéfico, mas sem os devidos cuidados, um extremo disso se torna patologia para o sujeito. 

Por covardia nossa, fazemos do outro o receptáculo das nossas ansiedades, dos nossos desejos e realizações. Ao invés de corrermos contra o vendo e sentir o frio que corta, mas que faz sentir viver, nos escondemos em nossas grossas crostas do eu e colocamos tudo nisso no outro que está ao nosso lado. É tão mais fácil, não é mesmo? Se der certo, você tira lições. Se der errado, o outro que vai se machucar. Um pensamento um pouco instintual, não? 

E quando o outro não satisfaz nossas expectativas, nos frustramos. E achamos que o outro é desprezível. Mais desprezível sou eu que não tenho coragem de sair a soleira da minha casa! Não sou aventureiro, devo confessar; e esse texto acaba sendo mais para mim do que para outro. Mas, entregar as experiências necessárias a outro para que ele faça isso por mim é esvaziar-se de sentido. É alienação do si mesmo. E quem pode viver assim? Sobreviver é possível, viver não. As marcas da vida são necessárias, cair é necessário para se entender melhor o que é estar de pé. 

Não entenda que você deve correr e pular do penhasco mais próximo. As projeções de nossos anseios é um processo que nem nos damos conta. E são, em proporções, saudáveis. O problema surge quando me esvazio do que quero e coloco tudo que tenho no outro, que assim como eu, pode ter todos os medos e defeitos. E, estranhamente, me surpreendo com resultados ruins. Pais que querem seus filhos impecáveis porquê isso trará boa imagem, namoradas que exigem atenção máxima dos namorados... e nada fazem no sentido contrário. Cobram mas não tentam. 

Os filhos tem personalidade própria, e reprimir isso para satisfazer o que você quer o faz desiludido. Atenção é importante, mas com ambas as partes investindo no processo. Você tem uma vida, é importante fazer dela o que há de melhor. Acabo me lembro do filme "Up, altas aventuras" (muito recomendado) na cena em que um dos personagens principais, Carl, finalmente concluí o sonho que tinha junto com sua falecida esposa de ir para o Paraíso das cachoeiras, e então, já lá, foleia o álbum de fotografias, como uma satisfação do passado... Até encontrar um recado de Ellie: "Thanks for the adventure...Now go have a new one!"

Será que está na hora da SUA aventura?

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