domingo, 1 de abril de 2012

O(uça)lhe para Mim

É comum, durante a experiência diária, que falemos uns aos outros sobre quase tudo (e quase nada). E, algumas das vezes que falamos, dizemos de nós mesmos. Nossos medos, ambições, pontos de vistas... E, no Diálogo, queremos ouvir o outro também. Ou talvez, o que realmente queremos é que os outros nós escutem.

A muito tempo se tem visto o quanto o homem parou de ouvir. Acho que a estimulação exacerbada acabou, parafraseado Saramago, gerando uma "Surdez Branca". Ouvimos, mas na verdade não ouvimos. Temos tanto para ouvir... Seja nos celulares, na televisão, na internet, na faculdade, na rua. E no final, não ouvimos nada. Aquela estranha sensação de alguém estar falando algo e você, perdido nos muitos sons ao seu redor, não absorve nada, mas ainda concorda (o tal, e falido, contrato social).

É estranho, mas o silêncio não basta para ouvir o outro. Com as novas maneiras de relacionamento hoje, a ausência de som externo não basta. As pessoas (nós) queremos que o tempo silencie, que haja um lugar onde a visão não engane, e os olhos mostrem o que os ouvidos captam. Querem que o outro se desdobre a ouvir, a dedicar um espaço único no meio dessa algazarra, e o silêncio ser a dedicação para olhar, ouvindo

Na relação Dialógica, quando um ouve o outro, cria-se uma ponte entre duas pessoas. E esse ouvir incluí um esvaziar-se. Ser ouvinte envolve, em menor ou maior grau,a entrega. Envolve caminhar pela estrada que o outro está propondo através de suas palavras, sem levar a tiracolo um mapa próprio. A aventura de notar o outro através do ouvir é, de certa maneira, desbravar mata virgem, sem saber dos sabores e perigos do outro. Quem, ao ouvir o outro, se coloca como referencial, não está ouvindo o outro, está na desesperada busca de ouvir a si mesmo.

Ouvir é uma dádiva, mas não se pode deixar de pensar que também é um exercício de ir ao outro e construir a si próprio. Quando se ouve, se vê o outro... E, dentre tantas coisas que se pode oferecer, muitos no imenso mundo que vivemos só precisam sentir: "Estou olhando para você." 

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