terça-feira, 3 de abril de 2012

Branquinha

Há alguns dias venho pensando em escrever algo relacionando aos animais abandonados, sobre ONG's e sobre homens. O post tinha até título pronto, mas devo confessar que o texto estava burocrático, está ruim para sair. Mas, para bom escritor, boas surpresas bastam. A vida, quase constantemente, gosta de nós ensinar pelas surpresas... E foi ontem que uma agradável surpresa, que passo aqui a descrever, levou as linhas que agora digito.

Necessitava ir a casa de meu querido amigo Márcio Kumaira, fazer empréstimo de alguns livros que muito me interessam ler. Na ida, como de costume, trocamos palavras e discussão acalorada nos cercara. Fez menção de passar na casa de sua namorada, Andressa, que mostrara mal estar enquanto estava na aula conosco. Consenti. Pensei que minha presença poderia ser inconveniente, mas por fim, nos três conversamos e tivemos momentos agradáveis, com boas risadas. Nós despedimos e continuamos em direção do lar do querido amigo Márcio, quando nos deparamos com um cão, uma cadela para ser mais exato, revirando o lixo.

"Cena comum", deve pensar o querido leitor. Mas, como já postei neste querido espaço, o comum, familiar, nos trás determinada cegueira. Podíamos passar por aquela cadela como outra qualquer, e continuar a nossa acalorada discussão. Mas, Márcio lembrou da citação de sua namorada na nossa conversa, sobre Rafaela, uma veterana do curso de psicologia, oriunda de minha querida Congonhas, que intentara levar uma cadelinha para sua casa, uma cadelinha de rua. Uma cadelinha branca... Um estalo surgiu na cabeça de Márcio: "Deve ser ela!". Não estávamos muito longe da casa de Andressa, então Márcio voltara correndo para avisar a descoberta. Fiquei imbuído da tarefa de cuidar que a cadela não fugisse...

E foi nesse meio tempo que fiquei a pensar. Chamei a cachorrinha, que carinhosamente aceitou meu convite e carinho fiz em sua cabeça. Teria que mante-la ali, mas o lixo fazia melhor função, pois parecia ela estar faminta. Fiquei pensando nos outros tantos animais que abandonados estão pelas ruas; e nessa cidade que agora estou, são  muitos. E, na minha mente, formulei a seguinte frase, depois falada a meu querido amigo: "Falar de trato com animais é, de certa maneira, falar do humano." Retomarei essa fala mais adiante.

Em pouco minutos, Rafaela e Cecília viam em direção a cadela, agora chamada branquinha, acompanhadas de Márcio. Muito a afagaram e mostraram felicidade por encontra-lá. E veja, era uma cena comum: uma cadela a virar o lixo. Intentamos leva-la a casa de Rafaela, e depois de algumas tentativas, conseguimos tira-la do lixo. Porém, faltando pouquíssimo para alcançarmos a casa, um cão apareceu no caminho e branquinha, assutada, fugiu.

Peço atenção a isso, pois é importante. Rafaela e Cecília, por um momento, sumiram também. A achamos posteriormente, acompanhando branquinha. Então, Márcio e eu nos juntamos a missão, e finalmente conseguimos alcança-la. Levamos (na verdade, Márcio levou) branquinha para a casa de Rafaela; lá, ela se mostrou mais dócil ainda, e Rafaela já planejava sua ida ao Pet shop, para depois ser levada para Congonhas.

O ato das duas veteranas me comoveu. Isso porquê tirar um cão da rua não é simplesmente coloca-lo dentro de casa. É habitua-lo a uma nova vida, com novos hábitos. E isso não uma tarefa fácil, começando pela alimentação e seguindo para as temidas fugas. Porém, elas se propuseram a isso. No tempo atual, tantos "politicamente corretos" não admitem agressão a animais, e dizem ser um crime tal atitude. Não discordo. Mas, estes não estão defendo os direitos dos animais, estão protegendo a vida dos animais. Proteger os direitos é não somente coibir a agressão, mas possibilitar a manutenção legítima e saudável da vida destes animais. O que incluí os tirar da rua. 

Não levanto bandeira, nem faço parte de ONG alguma. Só penso que, como disse mais acima, "Falar de trato com animais é, de certa maneira, falar do humano." E por que? Os humanos, ainda que pensantes, são animais. E infelizmente, essa sua capacidade não o tem tornado "Superior". Quando vejo que há pessoas que cuidam de animais, surge em mim uma esperança de que podemos cuidar de outro humano. É a lógica do menor para o maior: se alguém agride um cachorro, não lhe dando nenhum direito, o que posso esperar para comigo? Já os judeus sabiam disso, e sua sabedoria expressa: "O justo tem consideração pela vida dos seus animais".

Não só animais precisam de ajuda. Há homens abandonados também. Outro problema tão recorrente é a polarização dos problemas. Ora os animais, ora os homens. E ninguém atina ao fato de que, o homem é também animal. Faz parte do processo. E que ajudar homens abandonados também incluí os animais. Sempre noto que junto de andarilhos se vê cães... Estão ali por causa de comida, talvez. Mas, estão juntos. Demandar somente para um dos problemas pode não ajudar em muita coisa.

Sinceramente, torço para que Branquinha se adapte bem e rápido ao novo estilo de vida. E também fico feliz de ter, de certa maneira, participado do "resgate". Fico triste, por que Branquinha é uma de vários animais soltos pelas ruas que, como já disse em outro Blog, é uma questão não só de "Filosofia pessoal", mas é uma questão de saúde e urbanização. Sua resolução envolve atitude coletivas e também pessoais. 

Alguns já estão fazendo sua parte, e a esperança ainda existe... Afinal, sempre existirá.

P.s: Outro post nesse Blog fala sobre animais abandonados, clique aqui e confira!

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