quarta-feira, 11 de abril de 2012

As gaiolas do Eu

De onde tirarmos os referencias que nos norteiam? Como entendemos as coisas fora de nós? Esse questionamento, de ordem filosófica e psicológica, tem recebido respostas das mais variadas. E eu, que perito não sou em nenhuma das duas áreas, antes sou pequeno leitor e escritor, não vou me arriscar nos termos técnicos e graves das áreas. Expressarei, resumidamente, minha opinião como leitor de Machado de Assim, o querido "Bruxo do Cosme Velho".

O que define-se como mundo depende do lugar de onde falo. Minha interpretação e conhecimento advém de onde estou, numa relação em que construo e sou construído, de alguma forma. Como aprendido, os fatos não são dados. Eles depende de um problema. Neste caso, estou pensado que o mundo, ou seja, aquilo que me cerca, me é exterior, depende diretamente do que eu entendo. A significação é um processo humano sem precedentes, feito quer voluntariamente, quer não.

Querer impôr "visões de mundo" é, ao meu ver, patológico e ilógico. Não há significado sem significante, ou seja, o que para mim é mundo não o é para o outro. E, na relação dialógica, o objetivo é criar pontes e ir ao  significado do outro. Ouvir a outro é, antes de tudo, emaranhar-se no que o outro é. É entrar na gaiola alheia. Olhar pela perspectiva do outro, mirar onde o enquadro se fecha, e ver que na verdade, são caolhos aqueles que querem que todas as gaiolas sejam iguais.

As definições mudam, veem e vão. E falar sobre o mundo é falar sobre mim mesmo. A peculiaridade humana, nesse aspecto, torna-se infinita. Em constante mudança, ora estamos vendo o mundo como loja, ora como céu. E nesse processo, paradoxos e antíteses são bem-vindas. A perfeição, de longe, não foi feita para ser alcançada. Não por nós... O belo disso é notar que, imperfeição não significa ser errado mas sim, ser humano em gênero, número e grau.

E na hora que achamos ser o mundo uma gaiola, alguém vem e abre a portinhola. Fugimos, e dentro de um espanto misturado com uma perplexidade, voamos e notamos que alguma coisa mudou. Podemos entrar em vários momentos, mas estes serão posteriores... O espanto nos toma de tal maneira que o novo é indefinível. 

E depois, bem...  "(...) há lojas de Belchior?"

P.s: Esse texto está diretamente relacionado com o conto "Idéias de Canário", de Machado de Assis. É mais que recomendado a leitura deste, não só por este post, mas principalmente pela maestria e qualidade do autor. O Conto pode ser encontrado Aqui


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