terça-feira, 20 de março de 2012

O Espelho de Ojesed

"Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn"

Desejar... Qualquer indivíduo deseja. Alguns mais, outros menos. Esse sentimento move o homem a fazer coisas incríveis. Mas, e se nos fosse possível ver nosso desejo realizado, como num reflexo do que queremos, sem mover nem um músculo? Aqueles desejos impossíveis (e não vou descriminar o possíveis dos impossíveis), todos refletido sobre uma superfície. O que faríamos? 
Penso que morreríamos a frente daquele reflexo. Assim como Narciso, que por amar seu próprio reflexo se esquece dele mesmo, um desejo refletido, qualquer que fosse, nos paralisaria pelo deleite de vê-lo satisfeito. Como um entorpe, ficaríamos admirando o que não existe, mas que desejamos. Um desejo que não sofre as pressões dos ofícios da realidade se torna ópio, levando a estagnação.
Desejar é tão natural quanto viver. E muito do que fazemos, fazemos porque nos leva a realizar algum desejo. Porém, se desejo se torna um fim em si mesmo, se torna o mais mortal de todos os venenos. Quem deseja em si, definha por não transformar isso em realidade, ou em frustração. A própria frustração é resultado do desejo, porém de modo exterior. E pela frustração, pode haver transformação para outro desejo. Um processo...
Não sei como lidamos com todos os nossos desejos. Eles podem nos engolir, nos mover, nos matar e nos fazer crescer. São livres e fortes... Porém, como um sábio certa vez afirmou: "Não faz bem viver sonhando e se esquecer de viver." Um desejo é uma via para uma realização, ou melhor, para uma vida. É bom fazer essa explicitação, porque a vivência nos ensina que todos os nossos desejos não serão realizados. 
Desejar é movimento, não estagnação. No jogo do desejo, lutamos e adquirimos coisas além do desejo em sua gênese. Um espelho que refletisse o que queríamos seria a causa do nosso fim. Narciso desejou o estagnado e morreu em busca dele mesmo, sem saber. 

Um comentário:

  1. Gostei do texto, Narciso me inspira as vezes rs. Eu vejo o desejo como o reflexo da falta, só desejamos porque nos sentimos incompletos, necessitados de algo que acreditamos se encontrar fora. Por várias vezes me vi, refém dos meus desejos, paguei o preço que veio junto com o gozo. O preço de me ver incompleto.

    Abração, Tiago

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