sábado, 7 de abril de 2012

Hiper-entretenimento

A política Pão e Circo (Panem et circenses), instituída na antiga Roma, usava o entretenimento como arma para alienar o povo quanto aos problemas que circundava o império, o que a história mostrou ser paliativo. Não acredito que estejamos vivendo algo como uma "Neo" política Pão e Circo. Porém, noto que estamos passando por um processo de "Hiper-entretenimento".

Não sei se esse termo já foi usado por alguém. O assunto, provavelmente, já foi discutido. Estamos mergulhados numa infinidade de entretenimento, de todos os gostos, tipos e horários. Filmes são lançados cada vez mais rápido, livros são escritos um após o outro, músicas lançadas a toque de caixa. Jogos eletrônicos inovam a cada minuto e aposto que quando conseguir o meu sonhado XBOX 360, já teremos algo bem superior. Celulares, Notebook... Enfim, tudo circula muito rápido. E devo concorda que acha um aspecto positivo nisso tudo; Me preocupa, porém, os malefícios deste fenômeno.

A palavra Entretenimento,em seu significado puro, significa  "o conjunto de atividades que o ser humano pratica sem outra utilidade senão o prazer. É o desvio do espírito para coisas diferentes das que preocupam." Ou seja, desde o início, o propósito de entretenimento é Desviar o pensamento das coisas que preocupam. O meu receio nasce justamente aí. Um hiper-entretenimento leva a um grande desvio do pensamento das coisas que preocupam, o que faz acharmos que não vale a pena pensarmos sobre problemas reais, que nos circundam. Poderia aqui dizer que um ramo do hiper-entretenimento seria a alienação.

Não sou daqueles que acompanham as novidades. Por mais curioso que seja, gosto de curtir o antigo. O que hoje não é mais moda, os filmes que já saíram de cartaz, os livros que não foram lançados tão recentemente. Vejo que nisso consigo "curtir" aquilo que leio, vejo, ouço. Posso degustar esse prazeres, pensar sobre as propostas dos livros, músicas e filmes. Não sou contra os que não fazem isso, é o meu hábito. Mas, noto que as coisas estão tão rápidas, tão novas, que não estamos sentindo o verdadeiro valor do que temos. As muitas opções nos deixam cegos.

Precisamos de entretenimento. Sei que a vida já nos oprime demais e respirar um pouco é bom. Só receio, como já escrevi, que deixemos de pensar no que significa o cenário político atual, ou quais tendências estão envolvendo nossos atos, notar o quanto estamos alienados dos outros e de nós mesmo, só porquê está na hora do Big Brother Brasil (Sim, eu não acho utilidade alguma nesse programa). Acredito que se não pensamos, ainda que seja incômodo, deixamos de ser, passamos somente a estar. No primeiro capítulo do livro "Mal-Estar na modernidade", Sérgio Paulo Rouanet salienta um importante aspecto do que ele chama de Barbárie, o que poderia ser um resultado do que aqui chamei de Hiper-entretenimento. Assim ele escreve:   
"Quando a controvérsia entre o parlamentarismo e o presidencialismo é conduzida como se fosse a competição entre dois detergentes, é preferível escolher um produto menos nocivo ao meio ambiente - por exemplo, a cerveja, tomando partido, com um chope, na guerra entre a Brahma e a Antarctica."
Que vejamos os últimos filmes, ouçamos as músicas mais novas e compremos os novos jogos da temporadas. Mas não permitamos que nenhum desse tirem de nós a capacidade de parar e olhar a nossa volta e dentro de nós, questões que preocupam e que, ainda assim, necessitam de atenção.


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