segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Palhaço

Tenho uma certa aversão a palhaços. Estes criam em mim suor frio e uma louca vontade de fugir. Circo nunca foi meu forte (algum Freudiano se habilita a uma sessão para explicar?). E a marca de um circo, acredito eu, são esses homens que pintam seus rostos, usam roupas maiores e narizes vermelhos. E fazem (ou tentam) a platéia rir... Com palhaçadas.

E será que, de certa forma, todos nós somos palhaços? Pintamos nossos rostos com uma alegria plastificada, comprada a granel em um mercado desse grande mundo, e sorrimos. Ainda que, na verdade, estejamos chorando. Nélson Cavaquinho, na música O Palhaço escreveu:

Sei que é doloroso um palhaço
Se afastar do palco por alguém
Volta, que a platéia te reclama
Sei que choras palhaço
Por alguém que não lhe ama
Enxuga os olhos e me dá um abraço
Não te esqueças, que és um palhaço
Faça a platéia gargalhar
Um palhaço não deve chorar

Um palhaço não deve chorar. E hoje, num mundo onde se vende felicidade e o mercado explora ferozmente essa necessidade humana, chorar é algo tão difícil para alguns. Conheço gente que não consegue chorar. Só quem já chorou copiosamente quando precisava sabe o quanto é terapêutico chorar. Seja por raiva, tristeza ou  por nada. Chorar é exteriorizar o que a alma sente... O que está encravada no fundo do ser, onde ninguém pode tocar.

Mas, precisamos sorrir. E ser feliz torna-se imperativo, um fardo a ser carregado. Enquanto que felicidade deveria ser a busca de alguém, não algo que lhe é imposto. A jornada é longa, e ser feliz é um processo. Porém, precisamos pintar o rosto, a "platéia" nos espera. E precisamos faze-los rir... Ainda que estejamos em frangalhos. Nos Alienamos de nós mesmo, e enquanto os outros riem de nós, que aparentamos rir, choramos. E, desesperadamente, queremos arrancar essa maquiagem que oprime e, como humanos chorar... Derramar  tudo que podemos.

Não nego a importância das Personas dentro da convivência humana. Precisamos conter as lágrimas em certos momentos. Porém, mantê-las para sempre retidas é perder a oportunidade de sentir-se fraco o suficiente para se levantar. Os fortes nunca saberão isso (e acabei lembrando de um certo vencedor que uns hermanos me contaram). Se necessária for, fuja para onde você pode encontrar um "local de lágrimas"... Todo mundo deveria ter esse lugar. Seja com amigos ou sozinho, um lugar de lágrimas é um local onde tenho total liberdade para me expressar... Tirar a máscara, limpar a maquiagem, e mostra o quanto humano sou.

Acho que o medo que tenho de palhaços reside exatamente aí. Nesse sorriso falso, na maquiagem que pode esconder um coração triste... Mas, pensando bem, não tenho medo deles... Tem medo de ver essa maquiagem no meu rosto, quando olho no espelho. A platéia precisa de nós, mas precisamos de nós mesmo. Que os façamos rir, mas não deixemos de chorar.

Um comentário:

  1. Ôpa Cumpade,

    Esse é um tema que me provoca também. Nunca deslanchei em estudos a respeito, mas me agrada muito uma outra visão do palhaço.
    Numa apreciação desatenta do 'Bobo da Corte' pode-se concluir que ele é somente o tonto responsável pelo entreterimento da monarquia.
    Bom, até pode ser. Na verdade, hoje existe uma infinidade de estilos de palhaço, que pode-se tomar o assunto por muitos lados.
    Mas há, sem dúvidas, um lado do palhaço que dá medo e não é por sua alegria forçosa. Assusta-nos sua capacidade de crítica incessante e inesperada.
    Suas marteladas sutis e ornamentadas podem falar muito, nos remeter mesmo à nossa humanidade. Desta perspectiva, o mascarado é perito em despir as máscaras que usamos. Ninguém passa impune pelo verdadeiro palhaço. Palhaço artista, mestre em mudanças de percepção... dá até pra chorar...

    Falando nisso, não dá pra deixar de lembrar de RAN, do Kurosawa. Lá temos uma figura de palhaço fodíssima, em seu caminhar próximo à loucura!

    Saudações,
    Augusto

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